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A ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, acredita que o avanço na renda das mulheres, principalmente na região Nordeste, em comparação com a dos homens é positivo, mas ainda ocorre em ritmo "muito lento".

Estudo feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos) para a Folha mostra que em três regiões metropolitanas do Nordeste --Fortaleza, Recife e Salvador-- o rendimento feminino por hora avançou de 1,8% a 12,7% enquanto o masculino variou de -0,2% a 9,7%.

Leia a seguir a entrevista concedida pela ministra-chefe, por e-mail, sobre o tema.

Folha - Como é a presença das mulheres nos setores que estiveram mais dinâmicos recentemente na economia?

Iriny Lopes - Para as mulheres, a possibilidade de trabalhar fora de casa e possuir sua própria renda é fundamental para ampliar a igualdade. E embora a participação das mulheres no mercado de trabalho venha aumentando, as condições para isso são muito desiguais.

As suas possibilidades são constrangidas pelas responsabilidades domésticas, pois elas continuam como as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e o cuidado com os familiares. Essa é a principal razão para que a presença das mulheres no mercado de trabalho seja inferior à presença masculina.

Folha - Por que isso ainda ocorre?

Iriny Lopes - Muitas vezes elas são obrigadas a procurar trabalhos com horários mais flexíveis, em condições precárias, para dar conta do trabalho em casa. Dados da Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], do IBGE, sobre o tempo gasto nos afazeres domésticos, no cuidado com a família, têm mostrado que em uma família, mesmo quando o homem e a mulher trabalham fora, com a mesma jornada de trabalho, o tempo que as mulheres dedicam a estas tarefas é muito maior.

Além disso, com as mudanças nas dinâmicas familiares, cresce o número de mulheres que assumem sozinhas a responsabilidade com a família, o que pode tornar ainda mais difícil as alternativas de emprego.

Essa é uma das principais razões para que, muitas vezes, as mulheres mais pobres sejam também as que têm as piores condições de participação no mercado de trabalho. Isso leva a uma taxa de participação mais baixa para as mulheres mais pobres, o que também é verdade no caso dos homens, e em trabalhos com jornadas declaradas menos extensas.

Mas sempre é preciso pesquisar se não há, efetivamente, aí um tempo de trabalho embutido, invisível, característico dos trabalhos informais e precários. Sem dúvida, as oportunidades para as mulheres mais pobres são mais difíceis. É sempre destacar que as principais áreas de emprego das mulheres estão entre os grupos mais mal pagos, como o das as empregadas domésticas.

Folha - Hoje, as mulheres ganham cerca de 76% do que recebem os homens. Estudo feito pelo Dieese mostra que houve avanço na renda das mulheres, principalmente na região Nordeste, em comparação com a dos homens, segundo estudo feito do Dieese. Na sua avaliação, da renda das mulheres em relação à renda dos homens tem evoluído positivamente ou muito devaga?

Iriny Lopes - O fato de haver uma mudança na diferença de renda das mulheres em relação aos homens é, com certeza, um elemento positivo. Mas a mudança é pequena e com um ritmo muito lento para que se possa imaginar que sozinho o mercado de trabalho vai eliminar a desigualdade salarial.

Uma das explicações para a redução da diferença observada é que desaceleração do crescimento ocorrida entre final de 2008 e 2009 afetou principalmente os setores em que há uma presença menor de emprego feminino, como é o caso da indústria. Além disso, o patamar inicial de rendimento das mulheres é bem mais baixo que o dos homens, o que não pode ser desconsiderado.

Folha - Qual é a tendência para essa relação nos próximos anos e do que depende uma renda mais igualitária entre os gênero?

Iriny Lopes - Criar melhores condições para o trabalho das mulheres fora de casa depende de políticas públicas, mas também de mudanças importantes nas relações entre mulheres e homens na sociedade. Basta ver que as diferenças salariais entre mulheres e homens são maiores exatamente entre as mulheres com maior nível de escolaridade e, muitas vezes, nos empregos e carreiras mais valorizados.

Folha - O que tem sido feito para dar mais oportunidade para as mulheres no mercado de trabalho?

Iriny Lopes - O cuidado com as crianças é uma questão central na disponibilidade das mulheres para trabalhar fora. Por isso, a ampliação da frequência das crianças às creches e a questão da jornada escolar são fundamentais para melhorar as possibilidades das mulheres no mercado de trabalho.

O governo federal está investindo na ampliação do acesso à creche, na ampliação do tempo de permanência dos alunos nas escolas, na alimentação escolar e em outras políticas que interferem diretamente no trabalho doméstico, como o serviço dos restaurantes populares e de cozinhas comunitárias.

Além de fortalecer o enfrentamento à extrema pobreza, promover a segurança alimentar e nutricional e as oportunidades de produção para agricultores familiares, são políticas que, em escala, interferem diretamente sobre o tempo despendido no trabalho doméstico. E que é um tempo quase que exclusivamente feminino.

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